Como passar do choro à comunicação com o meu filho?
As crianças procuram constantemente formas de gerir e ter controlo sob o mundo à sua volta. Perante o choro vamos abordar duas possibilidades:
- a criança está realmente desconfortável e passa-se alguma coisa.
– queremos então oferecer-lhe calma e confiança na dificuldade que está a sentir sendo suporte e apoio para ela –
- o choro é uma tentativa da criança obter o que quer, como forma de comunicação.
– e, neste caso não vamos querer reagir de forma a ensiná-la a usar isso para obter o que quer –
Como agimos para passar do choro à comunicação?
Queremos encontrar uma forma de guiar a criança a comunicar o que quer sem que utilize o choro. Desta forma, em primeiro lugar, procuramos o nosso próprio conforto no momento, encontrando serenidade e confiança para agir.
É importante analisarmos com uns óculos externos a forma como reagimos nestes momentos, se temos pena ou se ficamos demasiado ansiosos. Percebermos exatamente o que sentimos pois, será a melhor forma de sabermos o que transmitir e como estar.
Quando temos uma grande reação perante um comportamento desafiador, isso provoca uma intensificação do comportamento na criança. Este comportamento aumenta significativamente em frequência e duração pelo reforço que está a ser dado.
É importante criarmos uma nova perspetiva sobre o choro olhando para a criança como forte, cheia de energia e capaz de aprender e termos a convicção de que estamos a fazer o melhor por ela.
A ligação de empatia com a criança é a chave. Pois segundo alguns autores, a empatia fortalece o cérebro na medida em que melhora as suas competências de autocontrolo e de introspecção.
“Adoro-te, mas não percebo o que queres”
Durante o choro mostre calmamente à criança que a quer ajudar mas não consegue perceber, porque o choro não permite. Mostre-lhe que se usasse uma palavra ou fizesse um gesto seria mais útil e assim já conseguiria entender. Enquanto a criança chorar mostre que não “percebe nada”, torne os movimentos muito lentos e mostre-se confuso mas muito calmo.
Se durante este momento a criança fala ou aponta para algo sem chorar, mexa-se rapidamente e mostre que dessa forma entende o que ela quer. Diga-lhe claramente: “Quando choras, eu mexo-me devagar; mas quando falas ou apontas eu entendo o que queres e mexo-me depressa!”.
Quando percebe o que a criança quer é importante demonstrar que palavra poderia ter usado, como por exemplo: “Ah, querias a bola. Da próxima vez diz bola!”
Podemos explicar com clareza a situação à criança fazendo uma abordagem direta: “Quero ajudar-te mas quando choras não entendo o que queres. Se precisares de um abraço estou aqui mas vou esperar que fiques calma e depois explicas-me o que queres.”
Usarmos as pessoas à volta como exemplo para nos auxiliar também pode ser uma boa estratégia. No momento em que a criança está a chorar exemplificar, se possível, com quem estiver por perto a brincadeira que poderiam estar a fazer se ela não estivesse a chorar.
Em sítios públicos, perante uma birra ou choro, devemos pegar calmamente na criança e retirá-la do foco de todos para a acalmar num local sereno. É importante percebermos que num momento de crise o cérebro da criança não está preparado para aprender. Por conseguinte, repreender, gritar ou tentar explicar alguma coisa à criança vai exacerbar a ansiedade e não vai permitir que se aproveite o momento para ensinar algo. Depois de serenar a criança é o momento ideal para conversar com ela sobre o acontecimento.
Por vezes não há uma varinha mágica para as situações, dê o seu melhor porque nunca é demasiado tarde para fazer uma mudança positiva.
E também não somos heróis, pelo que se sentir que a situação está fora do seu controlo, procure ajuda profissional junto de um Psicólogo(a).