Todos nós recebemos as sensações vindas do nosso corpo e do meio ambiente através dos vários canais sensoriais – visual, auditivo, olfativo, paladar, tato, propriocetivo (músculos e tendões) e vestibular (movimento e gravidade). Em situações normais o nosso cérebro tem a capacidade de perceber e processar essa informação de modo a ordenar respostas motoras, comportamentais, adequadas quer na força quer na intensidade.
A isso chamamos reatividade sensorial, isto é forma como cada um responde às várias experiências sensoriais.
Quando estamos perante uma disfunção no Sistema Nervoso Central, ao nível das áreas que regulam a entrada dos estímulos sensoriais, as respostas aos estímulos vão estar desajustadas relativamente ao que seria de esperar, podendo apresentar-se de uma forma exagerada –hiperreatividade – ou por outro lado não existirem ou estarem aquém do esperado – hiporeatividade.
Hiperreatividade sensorial
Estamos perante uma hiperreatividade sensorial sempre que temos uma resposta exagerada a um determinado estímulo típico. O limiar excitatório é por norma baixo, ou seja, o estímulo necessário para causar uma resposta não precisa de ser muito. Estamos perante indivíduos impulsivos, desorganizados, distraídos e facilmente irritáveis. Por outro lado, a maneira agressividade como é encarado o input sensorial, causando medo e ansiedade, pode levar a comportamentos mais passivos, evitando as sensações.
Hiporeatividade sensorial
A hiporeatividade, contrariamente à hiperreatividade caracteriza-se por uma resposta pobre, ou mesmo inexistente, ao input sensorial, sendo necessário mais estímulo, mais intensidade para que a informação seja processada a nível do sistema nervoso central. O limiar de excitabilidade é mais alto e estamos perante indivíduos mais passivos, apáticos e lentos. É comum encontrarmos neste tipo de registo sensorial a procura por experiências sensoriais, precisamente no sentido de obtenção de informação.
Estas alterações à forma como são encarados níveis típicos de sensação geram comportamentos que podem influenciar a participação nas atividades da vida diária, nomeadamente na exploração e no envolvimento com o contexto, nas tarefas escolares, no brincar e até mesmo nos ciclos de sono e vigília.
E aí surgem sinais aos quais devemos estar atentos. São eles:
- Alterações de comportamento;
- Défices de atenção/concentração;
- Alterações motoras ao nível da coordenação (global e fina);
- Alterações de equilíbrio;
- Atraso na fala e na linguagem;
- Resposta inadequada a determinados estímulos (visuais, auditivos, táteis, propriocetivos e vestibulares);
- Dificuldade em evitar o perigo;
- Impulsividade;
- Baixa autoestima;
- Reduzidos níveis de motivação para diferentes atividades;
- Dificuldades de interação social e de regulação emocional.
O papel do terapeuta ocupacional
Uma abordagem segundo a teoria da integração sensorial, tem-se demonstrado uma mais valia no tratamento das alterações da reatividade sensorial, uma vez que permite filtrar e organizar os estímulos, de modo a que o utente consiga satisfazer as suas necessidades sensoriais e consequentemente dar uma respostas, motoras e comportamentais adequadas.
O terapeuta ocupacional deve, idealmente, observar o utente nos diferentes contextos para que consiga perceber o modo como ele se comporta, sensorialmente, em diferentes ambientes e se esse comportamento é muito diferente de ambiente para ambiente. O diagnóstico diferencial é crucial para que se possa delinear o plano terapêutico de modo a:
- Envolver ativamente o utente em atividades com significado para ele;
- Dar o input sensorial adequado de modo a desencadear respostas motoras e /ou emocionais adequadas;
- Permitir que o utente organize as sensações e as use diariamente de modo efetivo no meio, generalizando nos diferentes contextos.
O papel dos pais/cuidadores no tratamento é determinante, de modo a consolidarmos as aprendizagem adquiridas e permitirmos a aquisição de competências cada vez mais complexas.